Panorama Socialista: Perspectivas do PSB em Minas e no Brasil
Boa noite a todos!
Peço licença para quebrar um pouco o protocolo e falar sobre minha experiência pessoal.
Os últimos acontecimentos no nosso mundo político e também dentro do nosso partido me deixaram bastante desanimado e cheguei a pensar em me afastar temporariamente. Faço parte do time dos enfartados e preciso cuidar de mim pra ter forças para estar dentro desse grande projeto, que é o nosso aqui.
Encontrei-me então, com um grande amigo, que com sábias palavras e o costumeiro afeto, ponderou se era adequada uma ruptura, que para a minha vida não seria nada fácil. Afinal de contas, me filiei ao Partido Socialista Brasileiro em 1999, e esse afastamento seria como podar uma parte muito importante da minha história pessoal. Uma trajetória que envolveu alegrias, vitórias, decepções, um ideal por vezes romântico; mas compromissado com uma missão.
Um pouco antes de aderir à legenda, em 1995, eu havia retornado para minha querida São João del-Rei; depois de muitos anos morando em São Paulo, cidade que me acolheu desde a minha juventude. Motivos pessoais/familiares influenciaram meu retorno à terra natal, onde pude acompanhar meu pai até seus últimos dias.
Retornar à cidade em que nasci, com a bagagem acumulada de várias experiências de anos vivendo fora, fez crescer dentro de mim um sentimento de comunidade. De me perguntar: em que eu posso contribuir para melhorar um pouco a vida dos meus conterrâneos?
Como sou ator por formação e sempre militei pela CULTURA, logo me chamou a atenção o Teatro Municipal de São João, uma magnífica construção do século XIX, que se encontrava em um estado lastimável de conservação e não era usado para nada. Aquilo me doeu. Nós, brasileiros, conhecemos bem as mazelas causadas pelo fato da atividade cultural ter sido colocada durante muito tempo em um segundo plano, como algo menor. De “esquecermos” que da atividade cultural através das artes e do olhar crítico que elas propõem, vem a contestação, o livre pensamento, o empoderamento, a diversidade, a percepção da realidade e o autoconhecimento. Ver aquele Teatro mal-tratado, com cadeiras quebradas e sem equipamentos, era a cara do Brasil que alguns queriam nos enfiar “goela abaixo”: um país mecânico, que aceita e digere tudo o que vem de cima, sem questionamento.
Lembro de pensar comigo mesmo: “Bom, eu não tenho dinheiro para reformar um Teatro, então o que eu tenho para ajudar? ”. Daí eu me lembrei dos anos trabalhando como ator e produtor cultural em São Paulo e pensei: tenho contatos! Posso trazer o apelo de pessoas conhecidas, midiáticas, para essa causa. Arranjei uma filmadora velha e pesada, e saí à cata de depoimentos de atrizes, atores, diretores, produtores, em várias cidades. Estava lançada a campanha: Acorda São João – Salve o teatro.
O segundo passo foi convidar a população para aquela luta. No boca-a-boca mesmo. Com a adesão crescente dos moradores, meus conterrâneos, eu pude perceber que o abandono do teatro não aconteceu por as pessoas não se interessarem por ele. Elas simplesmente assimilaram, se acostumaram com a situação. Como acontece com várias mazelas sociais. A pressão do dia a dia faz com que a gente assimile coisas que não estão certas. Acontece com todos nós. Acontece comigo e com vocês. Basta olhar em volta.
Para encurtar a história, conseguimos fazer uma linda campanha com adesão de todos e chamamos a atenção das autoridades e diversas entidades. No final, houve a reforma pela qual lutamos e a cidade recebeu de volta seu patrimônio. Lindo como ela sempre mereceu.
O que aprendi na época: apenas o meu descontentamento com o a situação do Teatro NUNCA mudaria nada. Mas o que eu pude oferecer, somado ao que cada participante pode oferecer; ISSO SIM FEZ TODA DIFERENÇA. Sem perceber, estávamos todos praticando a boa política: a que agrega e não separa, que une, a que aponta e propõe, a que coloca o interesse pessoal em segundo plano. A campanha só ficou forte quando deixou de ser minha para ser de TODOS. Foi um dos momentos mais sublimes que pude presenciar. (Solidariedade = Socialismo)
Poucos anos depois eu me filiei ao Partido Socialista Brasileiro e expressões como “Democracia pela Paz” e “a busca democrática pela igualdade de oportunidades e, principalmente de direitos, através do bem-estar social” me fisgaram desde então. Fui eleito vereador e reeleito com a maior votação da história de São João del-Rei. Acertei na minha escolha. O PSB realmente é a minha casa. E lá se vão anos na busca por dias melhores para todos. Muita coisa aconteceu.
Agora convido a todos a uma reflexão:
Até onde, nós do PSB de hoje somos coerentes com as diretrizes idealizadas por pessoas como João Mangabeira, Rubem Braga, José Lins do Rego, Sergio Buarque de Hollanda, Antonio Candido, Evandro Lins e Silva, Evaristo de Morais Filho, Antônio Houaiss, Jamil Haddad? O que esses mestres pensariam do PSB de 2017? (Sem esquecer do grande Miguel Arraes, Ariano Suassuna, Eduardo Campos).
O que perdemos na estrada? O que ficou para trás em cada curva?
Será que todos os nossos quadros são conscientes da nossa ideologia partidária? Entendem o ideal socialista através da democracia? São coerentes com o legado que herdamos?
Ou será que, como no caso do teatro abandonado da minha terra, nós estamos assimilando e nos resignando demais frente a certas decisões e ações equivocadas e até mesmo mal-intencionadas de alguns?
Política é para quem quer mudar o mundo ou para quem quer fazer conchavos sem se preocupar com o um ideal coletivo? O que será que pensam os movimentos sociais de hoje em dia, sobre isso?
Bem, vou dizer o que eu, Adenor Simões, filiado há 18 anos no Partido Socialista Brasileiro penso:
- O PSB que eu acredito, luta pela igualdade de direitos e oportunidades. Esse deve ser um objetivo contínuo, perene.
- No PSB que eu acredito: não há espaço para jogos de interesses se sobrepujando ao ideal partidário
- No PSB que eu acredito: agregar e unir são expressões muitos importantes
- No PSB que eu acredito: todos são iguais: não há espaço para qualquer tipo de preconceito e discriminação.
- No PSB que eu acredito: cada opinião é igualmente importante
- No PSB que eu acredito: a busca por votos não passa por cima da ética;
- No PSB que eu acredito: As escolhas da maioria serão sempre respeitadas, mas com o espaço para o debate sempre aberto;
- No PSB que eu acredito: A estrutura interna é horizontal e não vertical; não há chefes.
- No PSB que eu acredito: Cada filiado, principalmente os quadros que ocupam cargos de destaque, devem entender nossa filosofia e pregar a nossa cartilha.
- O PSB que eu acredito: Não é uma estrutura mecanicista, robótica, empresarial: ouvimos os apelos da população. Escutamos as pessoas.
- O PSB que eu acredito é plural, é multi, como o nosso país.
- O PSB que eu acredito é uma entidade perfeitamente alinhada com os ideais da esquerda.
- O PSB que eu acredito é aquele das caravanas, onde percorremos diversas cidades para passar a nossa mensagem: INTERAGINDO COM A POPULAÇÃO. Pois o nosso partido é da rua, e não somente do gabinete.
Amigos, a sociedade vem mudando, só não vê quem não quer. A política dos favores, do toma lá dá cá, está com seus dias contatos. As pessoas estão cobrando e vão continuar a cobrar. E que bom que isso aconteça. Que seja pra sempre. Partidos inorgânicos, sem comprometimento histórico, e sem objetivos sociais claros, vão pagar o preço por sua inconsistência.
Se o PSB buscar cumprir seus objetivos apontados em suas diretrizes originais, temos um bom caminho pela frente; afinal somos herdeiros de uma ideologia forte, alinhada com os anseios sociais. Porém, se sairmos do nosso propósito, rumo a uma crescente artificialização” da legenda, causada pelo que chamo de filiações incoerentes, temo pelo futuro.
Se QUISERMOS DE VERDADE, essa é a hora do PSB.
Quero agradecer aqui a todos que representam o PSB que eu acredito.
Em especial ao amigo CARLOS SIQUEIRA, homem comprometido com a igualdade, a justiça, a liberdade e a participação. Um grande líder que dentre as muitas qualidades, destaca a gentileza de saber ouvir, o gesto acolhedor e atitude agregadora. Incansável guerreiro. Querido de toda militância. (O amigo que citei no início dessa minha fala).
Como coordenador da Fundação João Mangabeira em Minas Gerais gostaria de organizar vários encontros de formação política, onde incentivaremos a criação dos nossos segmentos – que nos mostrarão as dificuldades e demandas a serem vencidas. Temos que dar voz a JSB, ao PSB Mulher, a Negritude Socialista, ao Movimento Popular, o Sindical, ao segmento LGBT. Só vamos fazer a diferença verdadeiramente se possibilitarmos o espaço para que essas pessoas, das nossas bases, possam estar dentro do debate.
Tenho certeza que, juntos a tantos militantes espalhados pela imensidão dessas Minas Gerais, vamos fortalecer o nosso PSB.
Não podemos esquecer: somos antes de tudo uma MISSÂO.
Não há conquista solitária, só se avança compartilhando esforços de competências.
Estamos juntos.
Muito obrigado!
Fevereiro/2017