O socialismo, como ideologia e prática, corresponde à expectativa humanista de justiça social que fundamenta uma inconformidade aguda e, consequentemente, uma inquietação de consciência que anima homens e mulheres a enfrentarem a luta política em nome de uma obra de civilização.
Com essa esperança, a “esquerda democrática”, amplo espaço de reunião das forças progressistas contra o Estado Novo, demarca em 1945 o campo de atuação socialista e, em 6 de agosto de 1947, funda o Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Ao seu ato inaugural compareceram pessoas da estatura de Hermes Lima, Evandro Lins e Silva, Antonio Candido, Joel Silveira e Rubem Braga, liderados por João Mangabeira.
É indispensável recordar que naquele momento histórico, de absoluta hegemonia do Partido Comunista Brasileiro à esquerda, e diante de 15 anos do trabalhismo de Vargas, proferiu-se um sonoro não às pretensões autoritárias de um campo e de outro.
Já àquela altura o PSB compreendia, como nenhuma outra força política, que o liberalismo estava manco da igualdade, tanto quanto faltava ao socialismo real a liberdade.
Entre 1947 e 1964, o PSB se pauta pela defesa da democracia sob constante ameaça. Nem a longa noite da ditadura militar, que o colocou na ilegalidade, nem a queda do muro de Berlim atingiram sua alma.
Em 1985 o partido se reergue para dar continuidade ao ideal de unir socialismo e liberdade, sob a liderança de expoentes como Jamil Haddad, Roberto Amaral e uma das maiores expressões da esquerda brasileira, o governador Miguel Arraes.
A partir da refundação, o PSB é protagonista na oposição ao presidente Fernando Collor de Mello; participa do governo de união nacional de Itamar Franco, à frente das pastas da Saúde e da Cultura.
Na oposição ao neoliberalismo dos governos de Fernando Henrique Cardoso, o partido contribui para moderar sua agenda regressiva.
Em 2014, o PSB apresenta um projeto inovador para o Brasil. Liderado por Eduardo Campos, confirma sua plena maturidade política e eleitoral, que crescera de forma constante desde sua refundação.
Mal superados os traumas da eleição de 2014 e do impeachment de Dilma Rousseff, contudo, nos vemos às voltas com um governo que tomou para si as pautas do mercado e adotou como programa político o desmantelamento da Constituição de 1988, suprimindo vários direitos arduamente conquistados pela população.
Não podíamos aceitar tal atentado contra o pouco desenvolvimento social que conseguimos edificar até aqui -por isso, o PSB fecha questão contra as reformas trabalhista e da Previdência.
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08/08/2017 Carlos Siqueira: PSB, 70 anos – 06/08/2017 – Opinião – Folha de S.Paulo
Reafirmamos, assim, nossa tradição e o fizemos com senso de nossa própria percepção de mundo, que não acredita que se possa governar com base no divórcio entre as políticas econômicas e as sociais.
Quando isso ocorre, a vítima imediata é a população mais vulnerável, mas ela não padecerá deste mal sem que a própria democracia seja colocada em risco.
É justamente o combate a essa ameaça que confere, desde 1947, unidade e coerência ao PSB.
Não faltamos ao Brasil 70 anos atrás e não o faremos neste presente de dificuldades, em que o socialismo democrático continua a representar uma esperança viva.
Fonte: Folha de São Paulo, 06/08/2017