O ritmo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil caiu, segundo aponta o consórcio de veículos da imprensa que monitoram a situação da pandemia no país.
Houve uma diminuição de 4,1 milhões de doses aplicadas em maio, ou 16%, em comparação com abril. Contrariando o que prometeu o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que seriam pelo menos um milhão de vacinados por dia no país, a média de doses diárias foi de 662 mil em maio, ante 821 mil em abril.
Em abril, foram cerca de 24,6 milhões de doses aplicadas. Enquanto, em maio, foram registrados 20,5 milhões. A redução significativa ocorreu no montante aplicado como segunda dose: de 10,5 milhões para 6,5 milhões, entre abril e maio.
Segundo a presidente da Sociedade de Pneumologia, Irma de Godoy, uma orientação dada de forma precipitada pelo Ministério da Saúde em março pode ter agravado a falta de imunizante para a segunda dose.
Em 21 de março, o então ministro Eduardo Pazuello autorizou que Estados e municípios usassem todo o estoque de vacinas contra o coronavírus para a primeira dose da imunização, sem necessidade de guardar para a segunda dose. Em 6 de abril, o novo ministro Marcelo Queiroga reforçou essa orientação. Entretanto, em 26 de abril, Queiroga admitiu a escassez de doses da CoronaVac, devido à falta de insumos para a produção do imunizante pelo Instituto Butantan, para a segunda dose e voltou atrás da recomendação.
“Acredito que essa mudança de estratégia, para se fazer a primeira dose em todo mundo sem reservar nada e depois com o atraso em novas remessas, teve um papel nessa redução do ritmo da vacinação — diz Godoy.
O mês de maio foi marcado por falta de vacinas para a segunda dose, principalmente da CoronaVac. A escassez foi relatada por 1.142 municípios, quase 40% dos que responderam à pesquisa da Confederação Nacional de Municípios, feita entre 10 e 13 de maio. Cerca 92% das cidades esperavam o imunizante feito pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac.
As dificuldades em torno da segunda dose são a principal causa da queda na imunização. Falta de insumos gera menos vacinas.
A falta de estímulo do governo federal à vacinação, sem uma campanha efetiva e clara sobre a importância da segunda dose, também são questões cruciais para a diminuição dos vacinados.
Além disso, o próprio presidente Bolsonaro age com negacionismo ao recusar vacinas, não usar máscara e até provocar aglomerações. Ele já recusou a compra de imunizantes, colocou dúvida sobre a segurança das vacinas produzidas pela China, afirmou que não vai se vacinar porque já estaria imunizado, disse que ninguém seria obrigado a tomar a vacina e que não se responsabilizaria por efeitos colaterais. “Se tomar e virar um jacaré é problema seu”, debochou.
Barreiras burocráticas também são apontadas como causas da vacinação em marcha lenta. A inclusão do grupo com comorbidades, sem uma definição exata das doenças e grau de acometimento, leva gestores a empreenderem discussões que consomem tempo e acabam por atrasar a imunização nos pontos de atendimento, além da dificuldade da população em obter os atestados necessários. A maioria da população depende do Sistema Único de Saúde (SUS), que já está sobrecarregado, e não consegue com facilidade esses documentos.
O infectologista Renato Kfouri, consultor da Associação Médica Brasileira no Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19, ressalta que as oscilações nas entregas agravam a situação do país.
“É uma pena estarmos sofrendo essas interrupções, porque é justamente nesse momento, na pior onda que atravessamos, que a gente mais precisa de uma população mais rapidamente vacinada”, afirma.
Vale destacar ainda a possibilidade de uma terceira onda da doença chegar ao Brasil com a aceitação do presidente da República em realizar a Copa América 2021 no país.
Depois da recusa da Argentina e Colômbia, o Brasil sediará o torneio do dia 13 de junho a 10 de julho deste ano. O campeonato reúne seleções de países da América do Sul e deve atrair milhares de pessoas para o país, incluindo jogadores, comissão técnica e torcedores, embora os jogos sejam fechados ao público.
Antonio Augusto Moura da Silva, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), diz que hoje o Brasil não tem condições de receber nenhum evento. Segundo ele, a chegada de turistas ao país pode causar um colapso no sistema de saúde já saturado por conta da quantidade de pacientes internados com covid-19.
“Estamos enfrentando uma segunda onda que não arrefeceu ainda. A taxa de transmissão também está muito elevada e estamos numa situação de descontrole. Além disso, a taxa de imunização está muito baixa, com apenas 10,4% da população vacinada com a segunda dose da vacina contra a covid”, explica.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional